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sexta-feira, 21 de junho de 2013

Delírios das três

Joaquim Paranhos de Menezes

Um passeio no nada
Com cheiro de rum,
À terra largada,
Sem santo algum.

A vista divaga
Num leito comum,
Avista, cegada, 
Um pasto nenhum.

No meio do nada
Escuta um zunzum ,
É a voz cantada
Dum mudo Vodum.

Em mais caminhada
Um pé de jejum,
Quão doce é o nada,
Comê-lo um por um.

Segue-se a toada
No campo incomum,
Num meio do nada,
Em lugar algum.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

À Vida

Joaquim Paranhos de Menezes

Foi novo aquele que disse:
Que é bom aproveitar, sem zelo, a ânsia;
Que o desmazelo, com a vida, é sua preferência;
E que - por tudo de mais sagrado - não anda triste!

Que numa torre de marfim reside
- Às entranhas da tosca folia -
Que aproveita a noite como se aproveita o dia,
-Nem um tostão de festança que evite!

Foi novo aquele que disse:
Que não é doença praticar o ócio,
Que deleitar-se de solidão não é negócio
E que não há fogo - do puro néctar - que não excite!

Que se esbalde em orgia e não fadigue,
Que se banhe em mordaz água púrpura
-Pouco a pouco menospreze a compostura!-
E com berros não se entrega à mesmice

Foi novo aquele que disse:
Que com pouco se é aventurado,
Que - de praxe - se faz tresloucado
Que enfadonhamente sã não há quem o visse!
Foi vivo aquele que disse...


Publicado em ANTOLOGIA DOS POETAS BRASILEIROS CONTEMPORÂNEOS - VOLUME 103
Br Letras





Indigestão letrada

 Joaquim Paranhos de Menezes
               

Eram muitas as noites em claro,
Envolto pela luz trêmula e fria,
Ao gélido breu e sem amparo,
Embebido na causa, pouco agia!

Voluntário do tédio me era caro,
A solidez que às horas estendia,
Debruçado sobre as letras em descaro,
Fora as indigestas, nada se via!

O perfume da madrugada já era raro,
Dos aromas, nem sinal mais havia,
Me erravam - isso sim - o faro,
Que lá, trancado, só o livro pungia!

Infindáveis letras e gosto agro,
Se enleavam em dinâmica orgia,
Derrubavam-me o olho magro,
Que fatigado só borrão lia...

Enterrava-me sob o imaculado
Desejo que em mim persistia,
E não tê-lo só me tornava avaro!

Minha vontade? Nunca se foi indagado,
Continuava, pois o que fazia,
Desperdiçar-me às noites em claro...

Selecionado para  publicação: Esses  nossos poetas... ( e seus versos geniais) - Edição especial 2013
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