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sábado, 26 de março de 2011

Dica JBM de leitura - Farra!

Celso Costa Ferreira


Casado há muitos, muuuitos anos, já tinha até me esquecido do que era uma boa farra. Mas agora, neste carnaval, tive a oportunidade de ir à forra/farra. E fui pra valer, me esbaldei, tirei o atraso. Sem remorso. Tive de novo o gostoso sabor da liberdade!


Acontece que minha mulher viajou, meu filho viajou, minha filha viajou e até minha netinha foi junto. Em casa, só eu e Dara, nossa cachorra, e caninos, vocês sabem, são fiéis e não saem por aí nos entregando de jeito nenhum. Ainda mais bem alimentada como foi - teve acesso irrestrito à geladeira. Não custa nada garantir fidelidade com agradinhos extras.
Pra começar, fiquei em casa três dias só de cueca - a mesma? Só vestia calças quando chegava o entregador de pizza e cerveja. Frequentei o banheiro com a porta aberta, roncava no sofá, mas mantive a higiene bucal direitinho: escovei os dentes até a escova sumir misteriosamente, o que se deu no segundo dia.


Mas a conquista maior mesmo, a suprema comprovação de minha completa autonomia sobre meu destino e verdadeiro dono do lar nestes dias, foi quando amarrei o controle remoto da TV numa correntinha, dependurei no pescoço e zapeei à velocidade da luz sem ouvir nenhum pitaco. A glória, a glória!


Os amigos ligavam:
- Vem pra cá, estamos bebendo.
- Eu também.
- Mas aqui tem tira-gosto...
- Tem pizza?
- Não, mas...
- Posso ir de cueca? Posso levar o controle remoto?
- Cê tá doido?
- Doido, não. Tô numa farra danada! Tchau!



Único probleminha é que foi aparecendo um punhado de coisas amontoadas na pia da cozinha que não tive a menor ideia de onde vieram. Imagino que pode ter sido
um efeito colateral da ausência da diarista que também não esteve em casa neste período. Será? Preciso checar direitinho essa história.



Bom, a coisa ia nessa toada, mas lá pelo terceiro - quarto?- dia, a turma toda voltou. Confesso que fiquei contente, aquela liberdade toda estava me dando nos nervos. Falta de costume. Quem não gostou muito foi Dara, que foi proibida de comer à mesa. Carnaval é isso! O tempo todo atrás do trio elétrico: cerveja, pizza e controle remoto na mão. De cuecão!


Celso Costa Ferreira - é médico psiquiatra e cronista do jornal O Popular


Publicado em O Popular

quinta-feira, 24 de março de 2011

Dica JBM de leitura - ABC dos Animais

Concebido para alfabetizar crianças, entre elas as deficientes auditivas, o ABC dos Animais é o primeiro passo para a comunicação da gurizada com o mundo. Leia mais em: http://www.animaisesonhos.com/

quarta-feira, 23 de março de 2011

Dica JBM de leitura - Celulares e trânsito ( crônica)

Flávio Paranhos


Já começaram a aparecer evidências científicas mais sólidas que correlacionam maior incidência de determinados tipos de tumor e uso constante e prolongado de telefone celular. Mas penso nem ser necessário.
Tenho convicção de que o celular, assim como a televisão, derrete o cérebro das pessoas. Emburrece-as, infantiliza-as, torna-as igualmente sem noção e mal-educadas. Tem a incrível capacidade de transformar cidadãos normais em homens de Neandertal, que acham importantíssimo atender dentro do teatro, do cinema, do consultório, do banheiro, da sala de aula, da igreja, etc. E não apenas atendem, mas conversam. E não apenas conversam, mas o fazem alto.

Nesse ponto é possível que o leitor se questione se eu tenho celular. Sim, tenho, porque não sou idiota a ponto de negar a utilidade desse irritante brinquedo. Porque, antes de ser fetiche infantil, ele é um telefone que se pode carregar para quase todo lugar e quebrar o galho em situações emergenciais. Atenção: emergenciais. Não atendo em consultório, cinema, teatro, etc. A não ser, evidentemente, que situações emergenciais verdadeiras ocorram. E não digo isso como se fosse uma vantagem, como se eu fosse merecedor de aplauso. O leitor acharia merecedor de aplauso se eu dissesse que não faço cocô no meio da rua, do cinema, do consultório, etc? Pois é. Uma obviedade. Uma obrigação básica. Que só não reconhece quem tem o cérebro derretido por anos de uso do brinquedo.


Celular e trânsito têm em comum o escancarar o pior da natureza humana. Uma das características humanas mais marcantes é o querer estar na frente dos demais. Somos animais, ergo, competitivos ao extremo por comida, sexo, bens e aquilo que nos permite ter tudo isso - poder. Uma vez num carro ou moto, não admitimos ninguém na nossa frente. O que não seria de todo condenável, se estivéssemos com pressa. Mas não. Não estamos mesmo com pressa. Só não queremos ninguém na nossa frente. É inadmissível. O que fazemos, então? Furamos fila, cortamos, costuramos, paramos em cima da faixa de pedestre. Tudo isso para obter a primazia animal sobre os demais. O sinal abre. E lá vamos nós, a 30 por hora, sem entender por que a fila de carros nos olha com cara feia quando finalmente consegue nos ultrapassar.
Pela direita. Sim, porque há algo entre a esquerda e os lerdos que Freud (ou Marx) deveria explicar. Não sei se é a proximidade do meio-fio da ilha de avenida que lhes dá segurança, ou se é preferência arbitrária mesmo, mas é impressionante a atração que os lerdos têm pela esquerda. Pretendem virar dali a dois quilômetros? Mantêm-se impávidos colossos lerdos à esquerda pra não correr o risco de não conseguir. Ou isso ou estão... usando o celular.

Faixa de pedestre e preferencial são palavras inexistentes no dicionário de motoristas e motoqueiros. A palavra "Pare" existe, mas significa "Siga". E o simbolismo das cores do sinal nada representa. Como não há nada ruim que não possa ficar pior, agora pode-se usar celular em avião.

Flávio Paranhos é médico e escritor
Publicado em O Popular 

terça-feira, 22 de março de 2011

O Tempo Tic, Tac

                                 Joaquim Borges de Menezes

O tempo tic. O tempo tac.
Sendo tudo e sendo nada.
Vira volta. Anti-horário.
Tudo tic. Tudo tac.

Só se sobe. Só se desce.
O decrescente resplandece.
Tempo negro. Tempo flavo

Esse tempo, que desfalece,
Meia volta volver.
Tempo esse que deprava.
Tempo esse que prescreve
Desalento e desencanto.
E do ventre definhado,
Tempo este que se perde.

Ventre descarnado, mas tempo sereno...
Já que, sem, do mesmo, avidez.
Já que, sem, do mesmo, ânsia.

Mas que volta
E que vira...
E tudo tic e tudo tac...
Apenas a embriagar-nos da inércia. 




Dica JBM de leitura - Míchkin, o gato idiota

Míchkin, o gato idiota


Flavio Paranhos


Chegam da festa. Ela o repreendia.
- Foi, no mínimo, de mau gosto.
- Não suporto novo-riquismo.
- Que importa?
- Importa.
- O caviar estava bom.
- Beluga.
- Beluga.
Silêncio. Sapatos. Roupas.
- A champanhe...
- Não era champanhe.
- Que importa?
- Não importa.
Pijama. Camisola.
- Fazia calor.
- A paella estava boa.
- Vieiras em paella?
- Você adora vieiras.
- É verdade.
Suspiro.
- A decoração.
- Não comece.
- As pinturas abstratas.
- Não continue.
- O gato.
- Como se já não tivesse sido deselegante o suficiente sua interpretação "excessivista" dos quadros
do casal, traçando seu paralelo com o Pôr do
Sol no Mar Adriático, de Boroneli.
Ele não se contém. Ri.
- E como você repetiu cada sílaba do nome do "famoso pintor italiano do início do século passado", de quem eles, obviamente, nunca ouviram falar. Pensa que não vi seu sorriso sarcástico?
- Eles não.
- Como se não bastasse, o gato...
- Nem se deram conta.
- (Irônica) Não, de jeito nenhum. (Ela o imita) "Qual é mesmo o nome do gato? Míchkin? Sério? Por quê? Ele é idiota?"
Ele afunda a cara no
livro pra que ela não o veja rindo.
- Ah, não! Não, senhor. O senhor não vai ler mesmo!
Ela arranca o livro de sua mão. Dostoievski.
- Boa noite.
- Boa noite.
Flávio Paranhos é médico e escritor
Publicado em O Popular

segunda-feira, 21 de março de 2011

Dica JBM de leitura


Regime, Pra Que Serve???,


Arnaldo Jabor

Barriga é barriga, peito é peito e tudo mais. Confesso que tive agradável surpresa ao ver Chico Anísio no programa do Jô, dizendo que o exercício físico é o primeiro passo para a morte.
Depois de chamar a atenção para o fato de que raramente se conhece um atleta que tenha chegado aos 80 anos e citar personalidades longevas que nunca fizeram ginástica ou exercício - entre elas o jurista e jornalista Barbosa Lima Sobrinho - mas chegou à idade centenária, o humorista arrematou com um exemplo da fauna: A tartaruga com toda aquela lerdeza, vive 300 anos. Você conhece algum coelho que tenha vivido 15 anos? Gostaria de contribuir com outro exemplo, o de Dorival Caymmi. O letrista compositor e intérprete baiano era conhecido como pai da preguiça. Passava 4/5 do dia deitado numa rede,bebendo, fumando e mastigando. Autêntico marcha-lenta, levava 10 segundos para percorrer um espaço de três metros. Pois mesmo assim e sem jamais ter feito exercício físico viveu 90 anos.


Conclusão: Esteira, caminhada, aeróbica, musculação, academia? Sai dessa enquanto você ainda tem saúde... E viva o sedentarismo ocioso!!! Não fique chateado se você passar a vida inteira gordo. Você terá toda a eternidade para ser só osso!!! e


Então: NÃO FAÇA MAIS DIETA !!
Afinal, a baleia bebe só água, só come peixe, faz natação o dia inteiro, e é GORDA !!!
O elefante só come verduras e é GORDOOOOOOOOO!!!


VIVA A BATATA FRITA E O CHOPP!!!
Você, menina bonita, tem pneus? Lógico, todo avião tem!


E nunca se esqueçam: "Se caminhar fosse saudável, o carteiro seria imortal".

Mundo Robô

Joaquim Borges de Menezes
De manhã abríamos os olhos,
Mas continuava noite.
Mesmo assim, começávamos a tarefa.

À tarde, a mesma rotina,
Não escutávamos vivalma,
Além de nossos batimentos.

Ao anoitecer,
Já nada sentíamos.
Nem pena, nem dor, nem alegria.
Nós não vivíamos.
Só nos persistia pura aceitação.
Aclamávamos o escurecer

Pois passara apenas um dia.
Apático a sentimentos,
Diligente a nosso senhor.
Que nunca dá as caras,
Já que somos nós sebentos.

Sem um pingo de fervor,
Cumprimos nosso dever.
E no final,
Nossa lataria já enferrujada.
Nossas peças para a seca solidão.
Somente uma vida pifada.
Dentre milhões de servos fortes.
Servos modernos e tecnológicos.
Modelos exóticos.

Para que este importuno,
Já que o ciclo é ininterrupto?

Depois da invalidez, desejamos o impossível.
Sonhamos em chegar ao ferro-velho.
A esperar nossa degradação,
Sendo apagados aos poucos.
Largados, inúteis, em meio a céu aberto.
E apenas lá,
Tão somente vi que enxergávamos,
Mas no fundo, no fundo,
Nós não víamos, era nada!