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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Vida cortesã - Doce bacanal




Joaquim B Menezes

Ouço a voz doce.
Desce em meus ouvidos.
Perco o medo do perigo.
Esgota (ela) meu sentido.
Para.

Cessa a audição,
Começa, pois, a sensação.
Nada dela são.
Sou, pois, louco.

Ouço, mas não escuto.
Passo o beijo.
Vejo nada.
Tara.
Bate o coração.

São doentios
Os lábios frios
Que se aquecem,
Secam e descem.
Voltam.
Passam beijos.
Passo desejo.

O preço
Paga o beijo.
Sexto tempo.
Desce.
Ápice.
Vem a emoção.

Para, então, o balanço.
Desce, volta, cede
O ultimo tesão
Dos doentios
Tais seres.
O beijo paga o preço,
O ato gentio.
Vil. Humano.
Desaquece.

Devagar para o compasso.
Acabam-se os gozos
Da dança carnal.
Volta o barulho.
Re-escuto.
O anseio fica, novamente, raso.
Re-ouço aquela voz.
O preço
Paga o beijo.
Saio.

Poesia publicada no livro " Aldeias" da Editora Guemanisse.

Gira-Mundo



Joaquim B Menezes


Mundo-Roda, Girassol,
Como flor no descampado.
Que adentra o Gira Mundo,
A rolar ladeira abaixo.

Procurando Viravolta,
Sem voltar no que virou.
Se rolasse só no campo,
Que roda Girassol,
Não teria o que o matou!


Quando eu brincava de gangorra




Joaquim B Menezes


Brincava de gangorra...
Meio à toa.
E daí?!
A brisa bem boa.

No meio do nada
Estava a gangorra.
E eu estava à toa!

No meio da Serra,
Serrado na terra,
Aquela gangorra.

Mas nem tava triste
De estar só eu.
É que o vento me disse
Que vezes é bom
Ficar só, no breu.

Ah! Mas eu tava à toa...
Na minha toada.
Sozinho, que seja,
No meio do nada.




Razão Áurea




Joaquim Paranhos de Menezes

Descubro, um dia,
Que havia
No fundo do peito
Uma tal de perfeição.

Aí, noutro,
Vejo que ela tá em todo o corpo:
Um vírgula sessenta e um.
Meio matemático.
Meio estático.
Perfeito um tanto comum...

E não é que depois descubro
Que esse troço aí
Não tá em lugar algum?!
Tá só na cabeça.

Mas não me importa.
Mesmo que de lá não desça,
Essa tal de perfeição,
Já tá bom
Ser perfeito,
Mesmo que na imaginação!

Esta poesia foi classificada no "Concurso Nacional, Novos Poetas, Prêmio Poetize 2013" e está publicada no livro - Novos Poetas da Editora Vivare - ANTOLOGIA POÉTICA



Ao amigo nordeste



Joaquim B Menezes


-“Caminhando e cantando,
E seguindo a canção”.
Tal esta, do vento,
Solando o sertão.

Com único amigo,
Solto um brado vivo,
Ao ácido chão:
-“Caminhando e cantando”
Sigo em vão.

Segue o retirante,
Seguindo o levante,
Servindo esperança
A ave
De cor do carvão.

Olho ao redor.
Só vejo suor
Das áridas terras
Que poucas, não são.

Continuo o compasso.
Aquele de aço,
Do peito à perna.

A lutar pela causa,
A lutar pelo pão,
Continuo a grunhir:
-“Caminhando e cantando”
Sigo em solidão.

Musiq’em meu arfar
Do ar duro de entrar,
Deveras voraz
A ao menos sevar
O mais pobre aipim.

Condenado a sanidade
De saber o caminho,
Sabendo o fim.
Ter como vizinho
O sol, o ardor.
Aquele  terror são!

Ter como privilégio
A vocalização.
E volto:
-“Caminhando e cantando”
Sigo o coração.

Este que bombeia
Ao corpo mais pó,
Que o sangue, já foi.
Tal corpo nem veia
Sustenta, nem devoção!

Eu, porco franzino,
Só rezo o credo
Da comida na mão.
Só rezo a canção:
-“Caminhando e cantando”
E seguindo então...

Poesia publicada no livro "Aldeias" da Editora Guemanisse.

Doce lembrança




Joaquim B Menezes


Em sua cadeira,
Doce, o velho  balança.
Seu pensamento vago
Cede a amarga ou doce lembrança.

Palavra não sai.
Sai só matuto
Que a memória lança.

Sai só lembrança
De outrora.
Sua única herança!

E de outrora lembrança,
Sai e vai embora
Aquela vontad’e vingança.

Desta vontade,
Nada a ninguém.
O que mesmo arde
É só ter em lembrança
A visão de outrem.
A visão de outra época...
Para, inquieto,
E pensa em brado:

-Ah, tempo! Nem me deixa um lasco.
De minha antiga hora...
Nem tasco!
- Mas te reclamo, ainda, de volta
Aquela minha Dora!
- Te reclamo aquela minha vida,
Lembra-te?!
Ainda que sofrida,
Ainda é vida
Que me ao peito ainda bate!

-Pois, Seu Tempo,
Que fique claro:
Se me cobre a cara,
Te parto a trapo!

- Não me toca, pelo menos,
E fico calmo agora.
Depois, mas só outra hora,
Juro, te deixo em acenos.

Poesia classificada no  "11 Concurso Literário Guemanisse de Contos e Poesias" e publicado no livro "Aldeias" da Editora Guemanisse.