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domingo, 10 de julho de 2011

Rosa de Sharon

08/07/2011

Joaquim Borges de Menezes Neto

Em seu peito enfermo não mais batia
Seu coração que o sangue não bombeava.
Sua gélida carne que jazia
Sob o peso da terra que o esmagava.
A podridão dessa terra o carcomia.
E o seu corpo, fonte que adura,
Que o tempo o libertara d’alvura.
Nem tormento de sua alma mais havia,
Pois só ficara da ex vida a mesura.

Sua pele perdia a cor rubente,
Desfalecendo, a virar cinza apodrecido.
A tentação insuportável de amar ingente,
Desparecia, deixando apenas o rosto lívido.
A visão que antes de tom refulgente.
Decomposta junto com o sentido.
É guardado com a Rosa de Sharon,
Como recompensa para os que lutaram,
E o esquecimento desses corpos dure vívido.

Seu corpo fétido exalava,
O aroma de carne decomposta.
O seu físico enrufado se apoucava,
E sua vergonha a nada disposta,
Como d’antes em sua vida relevava.
Nem descanso o livrava do ser gentio,
Que debaixo caía por fastio.
Seu ventre putrefato se fartava,
De um ex espírito doentio.

Não só a rosa alimentava,
As esperanças falecidas de um morto.
Esta que de tão rosa se exaltava,
Irrompia o sono do revolto.
Das mais belas, sobre o defunto contrasteava.
E esse defunto que um dia tanso,
Só vivia a maldizer do indesejado descanso.
Desse inesperado, o adormecido engava,
Que um dia voltasse a viver liberto.

Sua alma, que purgada, não humana,
Escoava sobre o peito maldito.
Ela que navegada a Taprobana,
Recompensa tal que foi próprio guarnecido.
Tão bela como a ilha Lusitana,
Enfeitiçava mesmas almas enfraquecidas.
Que de tanta tormenta tuas mãos ávidas,
Não seguravam a tentação insana.

Envolto por camadas de lenho leves,
Protegia-o  do ar ainda precário.
Nem madeira segurava infestação de vermes,
Que invadiam do morto o sacrário.
Corroendo de todo morto suas dermes,
Onde ambos batalhavam à porfia.
Sem ao menos apelar para cortesia,
Que venciam mesmo eram as pestes.

Sua sede de batalha inacabada,
Reverenciava o poderio criado de Trajano.
A sua vida nunca tão bem amada,
Mas agora entre o sagrado e o profano.
A tal morte com mais um corpo festejada,
Festejada por mais um corpo leviano.
A terra que se tornava adubada,
Por mais um óbito que já vivido.
Com o pesar alimentava-a já despido,
De desejo, de carne, de corpo e alma deleitada.

Sua alma jogada ao rio Estige,
A arder nesse rio caudaloso.
Mas nem se sente que nele frigi,
Matando o seu ultimo sentimento poroso.
A sua essência mortal fúnebre exige,
As forças absorvidas pela terra umedecida.
A mão quase podre vezes retida,
Pela fina camada de osso e pele ainda bege.

Sua viva morte a se degenerar virava,
Próprio adubo para os decompositores.
Só podridão de um ser lhe restava,
E zumbiam, da ante morte, os tenores.
A reclamação do ex vivo arrombava,
No silêncio da impotência dos vetores.
Sua coloração severa nem ao menos relutava,
Segurar a imagem de um homem.
Mais escondido, agora, dos olhos que o vêm,
Escondida, sua alma se lavava.

Seu fígado mais virado carniça,
Que do seu leito mal fazia parte.
Seu lábio de textura quebradiça,
Deixava a lembrança, de outros, que ainda arde.

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