Uma águia voando alto sente o forte vento passar-lhe a quilha e, ao fundo, formar o frio vácuo, em deleite. Perpassa uma montanha imponente,
tornando-se mais grandiosa que a montanha de peito estufado – tange maior
altura. Que feito incrível, cada pequeníssima molécula de oxigênio puro que
inspira com confiança! Quanto poder atravessa cada pena dourada de ouro, em
cada singular manejo do seu infindo corpo. A pressa fica mais devagar na
apressada lentidão acrobática do belo pássaro. O sol sorri um calor, compensado
pelas refrescantes plumas que banham o caminho do viajante das alturas de antíteses. Bate seu aparelho conquistador, domando o ar, que realiza consigo um indescritível
dueto. A harmonia perfeita se forma em compassos rítmicos dos céus, que fazem
invejar uma orquestra. Voa, como voa!, até que lhe barra o ofício um forasteiro.
A pomba cai alguns metros sobre outro estranho monte de concreto, um forasteiro
menor. Os ares geometricamente cúbicos cospem naquela gélido desejo de fuga. A paisagem
claustrofóbica urbana circunda a esperança fluida, que agora pesa sobre o corpo frágil
da ave. Essa esperança agora encontra-se mais suja, pelo aglomerado de ternos pretos que
excretam os óxidos infelizes. O desespero seco ginga num vai-e-vem louco da
hematose: entra dor e sai apatia. A dança da respiração, por inércia, transforma-lhe
em raposa. Dança-doença. De pouco em
pouco o ar vira lama, que entorpece a inocência da pomba. Sentimento ártico
toma-lhe as rédeas da noção. É a única forma de sobrevivência na selva de
rancor, ira, avareza, luxúria. Cai por fadiga. Derrama pelo chão as forças
nobres. Prepara-se para hibernar um longo sono egoísta. O urso reclina-se em
desprezo pelos arredores. As baladas invernais conduzem estridentes sons, dialética
da individualidade, e convencem cada singular animal aos sentidos toscos. Aquele
mamífero nada evita a persuasão dos fatos imparciais. Vaidade do cosmos versus
sua ausência de vaidade. Então lhe sobra, como herança apática, o sono. Para dormir, expira as últimas partículas de aspiração. Tomba no seu leito de
pequenez. Sua inferioridade espalha-se num gramado verde. A relva ínfima atrai
a esperança líquida, recobrindo toda a verdura como se orvalho. Os hidatódios
liberam a aspereza final, que intoxica a alma pura de qualquer situação. Os uivos
brincalhões renovam a perspicácia das nervuras grandiosas da natureza. A troca
de palavras animadas inspira a homeostasia do meio. As humildes gramíneas se
agitam, acompanhando um tango entre o reino animal e vegetal! Os eufemismos não
se importam em manter suavemente a tranquilidade do lar das verdes criaturas. Voltam
a murmurar os duetos, que viram, em vários momentos, um hino à renovação de
vidas. Contudo, a plenitude musical logo
é abafada pelas tormentas vorazes e vingativas da madrasta natureza. A tempestade
cresce com rigor sobre a vegetação ex-alegre. Cada pingo veloz e certeiro carrega
a dubiedade das relações entre as gramas conjuntas. Forma-se uma bipolaridade
ingrata com o sentimento vigente... Quebra-se e se constrói. Quebra-se e se constrói
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