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terça-feira, 16 de dezembro de 2014



     Uma águia voando alto sente o forte vento passar-lhe a quilha e, ao fundo, formar o frio vácuo, em deleite. Perpassa uma montanha imponente, tornando-se mais grandiosa que a montanha de peito estufado – tange maior altura. Que feito incrível, cada pequeníssima molécula de oxigênio puro que inspira com confiança! Quanto poder atravessa cada pena dourada de ouro, em cada singular manejo do seu infindo corpo. A pressa fica mais devagar na apressada lentidão acrobática do belo pássaro. O sol sorri um calor, compensado pelas refrescantes plumas que banham o caminho do viajante das alturas de antíteses. Bate seu aparelho conquistador, domando o ar, que realiza consigo um indescritível dueto. A harmonia perfeita se forma em compassos rítmicos dos céus, que fazem invejar uma orquestra. Voa, como voa!, até que lhe barra o ofício um forasteiro. A pomba cai alguns metros sobre outro estranho monte de concreto, um forasteiro menor. Os ares geometricamente cúbicos cospem naquela gélido desejo de fuga. A paisagem claustrofóbica urbana circunda a esperança fluida, que agora pesa sobre o corpo frágil da ave. Essa esperança agora encontra-se mais suja, pelo aglomerado de ternos pretos que excretam os óxidos infelizes. O desespero seco ginga num vai-e-vem louco da hematose: entra dor e sai apatia. A dança da respiração, por inércia, transforma-lhe em raposa. Dança-doença.  De pouco em pouco o ar vira lama, que entorpece a inocência da pomba. Sentimento ártico toma-lhe as rédeas da noção. É a única forma de sobrevivência na selva de rancor, ira, avareza, luxúria. Cai por fadiga. Derrama pelo chão as forças nobres. Prepara-se para hibernar um longo sono egoísta. O urso reclina-se em desprezo pelos arredores. As baladas invernais conduzem estridentes sons, dialética da individualidade, e convencem cada singular animal aos sentidos toscos. Aquele mamífero nada evita a persuasão dos fatos imparciais. Vaidade do cosmos versus sua ausência de vaidade. Então lhe sobra, como herança apática, o sono. Para dormir, expira as últimas partículas de aspiração. Tomba no seu leito de pequenez. Sua inferioridade espalha-se num gramado verde. A relva ínfima atrai a esperança líquida, recobrindo toda a verdura como se orvalho. Os hidatódios liberam a aspereza final, que intoxica a alma pura de qualquer situação. Os uivos brincalhões renovam a perspicácia das nervuras grandiosas da natureza. A troca de palavras animadas inspira a homeostasia do meio. As humildes gramíneas se agitam, acompanhando um tango entre o reino animal e vegetal! Os eufemismos não se importam em manter suavemente a tranquilidade do lar das verdes criaturas. Voltam a murmurar os duetos, que viram, em vários momentos, um hino à renovação de vidas.  Contudo, a plenitude musical logo é abafada pelas tormentas vorazes e vingativas da madrasta natureza. A tempestade cresce com rigor sobre a vegetação ex-alegre. Cada pingo veloz e certeiro carrega a dubiedade das relações entre as gramas conjuntas. Forma-se uma bipolaridade ingrata com o sentimento vigente... Quebra-se e se constrói. Quebra-se e se constrói

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