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quarta-feira, 23 de março de 2011

Dica JBM de leitura - Celulares e trânsito ( crônica)

Flávio Paranhos


Já começaram a aparecer evidências científicas mais sólidas que correlacionam maior incidência de determinados tipos de tumor e uso constante e prolongado de telefone celular. Mas penso nem ser necessário.
Tenho convicção de que o celular, assim como a televisão, derrete o cérebro das pessoas. Emburrece-as, infantiliza-as, torna-as igualmente sem noção e mal-educadas. Tem a incrível capacidade de transformar cidadãos normais em homens de Neandertal, que acham importantíssimo atender dentro do teatro, do cinema, do consultório, do banheiro, da sala de aula, da igreja, etc. E não apenas atendem, mas conversam. E não apenas conversam, mas o fazem alto.

Nesse ponto é possível que o leitor se questione se eu tenho celular. Sim, tenho, porque não sou idiota a ponto de negar a utilidade desse irritante brinquedo. Porque, antes de ser fetiche infantil, ele é um telefone que se pode carregar para quase todo lugar e quebrar o galho em situações emergenciais. Atenção: emergenciais. Não atendo em consultório, cinema, teatro, etc. A não ser, evidentemente, que situações emergenciais verdadeiras ocorram. E não digo isso como se fosse uma vantagem, como se eu fosse merecedor de aplauso. O leitor acharia merecedor de aplauso se eu dissesse que não faço cocô no meio da rua, do cinema, do consultório, etc? Pois é. Uma obviedade. Uma obrigação básica. Que só não reconhece quem tem o cérebro derretido por anos de uso do brinquedo.


Celular e trânsito têm em comum o escancarar o pior da natureza humana. Uma das características humanas mais marcantes é o querer estar na frente dos demais. Somos animais, ergo, competitivos ao extremo por comida, sexo, bens e aquilo que nos permite ter tudo isso - poder. Uma vez num carro ou moto, não admitimos ninguém na nossa frente. O que não seria de todo condenável, se estivéssemos com pressa. Mas não. Não estamos mesmo com pressa. Só não queremos ninguém na nossa frente. É inadmissível. O que fazemos, então? Furamos fila, cortamos, costuramos, paramos em cima da faixa de pedestre. Tudo isso para obter a primazia animal sobre os demais. O sinal abre. E lá vamos nós, a 30 por hora, sem entender por que a fila de carros nos olha com cara feia quando finalmente consegue nos ultrapassar.
Pela direita. Sim, porque há algo entre a esquerda e os lerdos que Freud (ou Marx) deveria explicar. Não sei se é a proximidade do meio-fio da ilha de avenida que lhes dá segurança, ou se é preferência arbitrária mesmo, mas é impressionante a atração que os lerdos têm pela esquerda. Pretendem virar dali a dois quilômetros? Mantêm-se impávidos colossos lerdos à esquerda pra não correr o risco de não conseguir. Ou isso ou estão... usando o celular.

Faixa de pedestre e preferencial são palavras inexistentes no dicionário de motoristas e motoqueiros. A palavra "Pare" existe, mas significa "Siga". E o simbolismo das cores do sinal nada representa. Como não há nada ruim que não possa ficar pior, agora pode-se usar celular em avião.

Flávio Paranhos é médico e escritor
Publicado em O Popular 

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